4 de dez. de 2011

QUASE!

Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...


[Mário de Sá-Carneiro]

20 de nov. de 2011

À parte das coisas


Emil M. Cioran

É preciso uma considerável dose de inconsciência para entregar-se sem reservas a qualquer coisa. Os crentes, os apaixonados, os discípulos, só percebem uma face de suas deidades, de seus ídolos, de seus mestres. O entusiasta permanece inelutavelmente ingênuo. Há sentimento puro onde a mescla de graça e imbecilidade não se traia, e admiração devota sem eclipse da inteligência? Quem entrevê simultaneamente todos os aspectos de alguém ou de algo permanece para sempre indeciso entre o arrebatamento e o estupor. Disse que qualquer crença: que fausto do coração — e quanta ignomínia por baixo! É o infinito sonhado em um esgoto e que conserva, indeléveis, sua marca e seu fedor. Há um notário em cada santo, um quitandeiro em todo herói, um porteiro no mártir. No fundo dos suspiros esconde-se uma careta; aos sacrifícios e às orações misturam-se os vapores do bordel terrestre. Consideremos o amor: há expansão mais nobre, arrebatamento menos suspeito? Seus estremecimentos competem com a música, rivalizam com as lágrimas da solidão e do êxtase: é o sublime, mas um sublime inseparável das vias urinárias: transportes vizinhos à excreção, céu das glândulas, santidade súbita dos orifícios… Basta um momento de atenção para que essa embriaguez, abalada, nos lance nas imundícies da fisiologia, ou um instante de fadiga para constatar que tanto ardor só produz uma variedade de ranho. O estado de vigília altera o sabor de nossos arroubos e transforma quem os sofre em um visionário pisoteando pretextos inefáveis. Não se pode amar e conhecer ao mesmo tempo, sem que o amor padeça e expire sob o olhar do espírito. Investigue suas admirações, perscrute os beneficiários de seu culto e os que se aproveitam de seus abandonos: sob seus pensamentos mais desinteressados descobrirá o amor-próprio, o aguilhão da glória, a sede de domínio e de poder. Todos os pensadores são fracassados da ação que se vingam de seu fracasso por meio de conceitos. Nascidos aquém dos atos, os exaltam ou os menosprezam, conforme aspirem ao reconhecimento dos homens ou à outra forma de glória: seu ódio; elevam indevidamente suas próprias deficiências, suas próprias misérias à categoria de leis, sua futilidade ao nível de princípios. O pensamento é uma mentira, como o amor e a fé. Pois as verdades são fraudes e as paixões, odores; e, no final das contas, a escolha está entre o que mente e o que fede.

17 de nov. de 2011

A Proeza

Soletro T R I S T E Z A
como se fosse a sobremesa do dia.

A gente nunca sabe quando deixará
de ser o destino que nos guiará
por entre os caminhos desta vida.

Eu não sei se há
pessoa coisa lugar
que venha assombrar

meu livre-arbítrio.

Que venha me assolar
a paz de espírito.

Que venha me aterrar os sentidos,
aterrorizar-me os ouvidos
com gemidos e pungências tais
e exigências descomunais,

pessoas que viram coisas
pessoas que são lugares
espasmos
espáduas

atravessando os salões dessa morada:
ora, quem poderia prever?

Duvido. Pago pra ver.
Depois de tudo o dito quem poderia tecer
tamanha euforia em meu espírito?

O que há de ser?



Será que será?

11 de nov. de 2011

A Separação



Enquanto acreditarmos que precisamos de outra pessoa, causa, coisa, missão, para nos tornarmos inteiros, continuaremos a nos perder na cidade-fantasma de sentimentos, pensamentos e projecções. O universo inteiro está dentro de nós. A energia não se perde; ela transmuta para contribuir para a dança da evolução.


A finalidade de estarmos encarnados é o regresso à origem. O sussurro do futuro está no feminino. É pela energia feminina que ocorre a manifestação da forma a partir da ausência de forma, mas, para produzir manifestação física, o yin funde-se com o yang e cria o impulso que move e articula as marés cósmicas.


Só alcançaremos a fusão total com outras formas de consciência se estivermos imbuídos do poder de vida a ponto de o irradiarmos. Senão, vamos projetar ou sugar energias. Quando reforçamos nossa energia radiante, ao mesmo tempo, atraímos os outros e os tornamos livres para nos "seguirem". A limpeza do corpo emocional de antigos hábitos negativos é o pré-requisito para o autoconhecimento. Primeiro é preciso recuperar a integridade individual para depois correr o risco de nos rendermos 


a uma nova energia de fusão.



in: O EGO SEM MEDO
- Chris Griscom -

10 de out. de 2011

Poesia Eletrônica

segunda-feira.

as mesmas velhas
melancolias
e a vontade
de caber no seus
braços
como cabe
o violão
ou canção
antiga
e cafona.


30 de ago. de 2011

Hilda_Hilst


Poemas malditos, gozosos e devotos:


Se já soubesse quem sou

Te saberia. Como não sei

Planto couves e cravos

E espero ver uma cara

Em tudo que semeei.

Pois não dizem que te mostras

Por vias tortas, nos mínimos?

Te mostrarás na minha horta

Talvez mudando o destino

Dessa de mim que só vive

Tentando semeadura

Dessa de mim que envelhece

Buscando sua própria cara

E muito através, a tua

Que a mim me apeteceria

Ver frente a frente.


Há luas luzindo o verde

E luas luzindo os cravos.

Couves de tal estatura

E carmesins dilatados

Que os que passam me perguntam:

São os canteiros de Deus?

Digo que sim por vaidade

Sabendo dos infinitos

De uma infinita procura

De tu e eu.


H.H.

21 de jun. de 2011

Supressão

Zen Tarot Card

Em sânscrito, a palavra é ´alaya vigyan´: a casa em cujo porão você vai juntando coisas que gostaria de fazer, mas que não pode por causa das condições sociais, da cultura, da civilização. Essas coisas, porém, vão se acumulando ali, e muito indiretamente passam a afetar as suas ações, a sua vida. Elas não podem encará-lo diretamente -- você as obrigou a ficar na escuridão; mas, do escuro, elas continuam influenciando o seu comportamento. Elas são perigosas: é arriscado manter todas essas inibições dentro de você.É possível que essas sejam as coisas que atingem um clímax, quando uma pessoa enlouquece. A loucura não é outra coisa senão todas essas repressões chegando a um ponto em que você já não consegue controlá-las. A loucura, porém, é aceitável, ao passo que a meditação não - e a meditação é o único caminho para tornar uma pessoa absolutamente sã.

Osho in: The Great Zen Master Ta Hui 


Comentário:
A figura desta carta apresenta-se literalmente "emaranhada em nós". Sua luz ainda brilha no íntimo, mas esse personagem reprimiu sua própria vitalidade na tentativa de corresponder a muitas exigências e expectativas. Abriu mão de todo o seu próprio poder e visão, em troca de ser aceito por essas mesmas forças que o aprisionaram. O perigo de reprimir dessa maneira a própria energia natural é visível nas rachaduras de uma erupção vulcânica que está para acontecer em toda a volta da figura.

A verdadeira mensagem desta carta é que é necessário encontrar uma saída de cura para essa explosão iminente. É essencial encontrar uma maneira de dar vazão a qualquer tensão e estresse que possam estar se acumulando, neste momento, dentro de você. Soque um travesseiro, dê pulos, procure uma área deserta e berre contra o céu vazio: qualquer coisa que possa ativar sua energia e consiga fazê-la circular livremente. Não espere que aconteça uma catástrofe.

14 de jun. de 2011

Mais um espaço virtual


Bom, lá vou eu,
novamente...

Pq mais um blog? Pq sim. Ou, pq não?
Eu estou com tanta gana de dizer algumas coisas...
Mas não! Não vou falar sobre elas...

Não agora! Pq agora eu quero me esquecer um pouquinho
deste ego que carrego comigo... Com suas necessidades...
Vcs, sabem... Toooda aquela picuinha...

 São realmente os problemas, o que temo?
Ou, não tê-los? Pq afinal de contas eu
me mantenho destas pequenas rinhas...

Por diversão ou por pena
amo e odeio...

Me equilibro nessa linha de pensamento...
Quem sou, para onde vou, e a quê vim?
Enfim, dispensarei estas coordenadas... Por hora...

Agora, quero só dizer que sei que nada sei,
e que ser ou não ser são a mesma coisa, pedra,
folha, pluma, duna... Sou alma pura...

Sou cada coisa e cada lugar, nada mais...
Não ando olhando para tráz...
E no silêncio mais profundo

encontro a paz.

E TENHO DITO.

Mais um blogue sem compromisso ;^)